Já imaginou como seria ter todos os momentos de sua vida registrados? Poder ter acesso a todas as informações às quais você foi exposto desde o nascimento até a morte; tudo que você fez, comeu, leu, sentiu? Um 'diário de bordo' completo.
Gordon Bell, renomado pesquisador da Microsoft, não só já imaginou como também comprou a idéia. Desde 1998, ele lidera o projeto My Life Bits (MLB), um esforço rumo à compreensão da viabilidade, do custo e também do valor de se armazenar tudo da vida de uma pessoa.
Acaba de chegar às livrarias (e eu recomendo principalmente aos arquivistas) o livro “O futuro da Memória – Total Recall” . Nele são divulgadas algumas conclusões preliminares do My Life Bits, e também lançadas algumas reflexões sobre os possíveis benefícios que a impossibilidade do esquecimento traria para nossa saúde, trabalho, aprendizagem, vida diária e (pasmem) pós vida.
A narrativa é de Gordon Bell e ele explica como se tornou a principal cobaia de sua pesquisa. Incomodado com o fato de o ser humano naturalmente esquecer, e também com a dificuldade de gestão dos registros em suporte tradicional, ele reclama:
“A memória biológica é subjetiva, fragmentada, distorcida por emoções, filtrada pelo ego, impressionista e mutável. A memória digital é objetiva, não passional e inclementemente precisa”.
A criação dessa memória digital (memória integral – total recall - e-Memory), explicando grosseiramente, implicaria em digitalizarmos todos os documentos que produzimos ou recebemos, andarmos 24 horas por dia com monitor cardíaco e uma filmadora digital ligada, gravarmos toda e qualquer conversa, e nunca produzirmos registros físicos. Bell está fazendo isso em seu cotidiano há alguns anos, ele se utiliza de cloud computing para acesso a sua e-Memory, e também conta com um software onde é possível, por exemplo, digitar um parâmetro “conversa que tive com minha esposa em 01.11.2010” e como resposta o sistema devolve o video+áudio da conversa, além da transcrição feita automaticamente.
No livro, Bell conta diversas histórias sobre o desenvolvimento do projeto, algumas são hilárias. Observa-se também a discussão de diversas questões relativas à Arquivologia, à Biblioteconomia e à Ciência da informação. O Memex (pensado por Vannevar Bush, em 1945) foi a grande fonte inspiradora para desenvolvimento do MLB. Estão lá também os problemas referentes à organização, recuperação e comunicação da informação, à classificação arquivística, aos arquivos pessoais e à obsolescência tecnológica.
Na minha opinião, a idéia de Memória Integral é tão bizarra quanto encantadora. O arquivista pode ser visto como um guardião da memória, mas não seria, também, o esquecimento, se não um direito, um elemento imprescindível para a formação da Identidade e para a saúde psicológica do indivíduo?
Postado por: Leonardo N. Moreira