Isso é o que eu odeio na cultura de Brasília: as pessoas sempre dão opinião pensando em agradar ao interlocutor ou em não ofendê-lo. Tem gente que chama isso de política. Na academia isso se chama "não-ciência". Se eu quisesse que as opiniões daqui fosse concordantes com as minhas eu não abriria o debate. Simplesmente "meteria conteúdo goela abaixo" dos estudantes e depois faria uma prova "objetiva" para premiar aquele que melhor reproduzisse as minhas idéias. Acho que assim procedem muitos colegas.
Fico muito chateado em ver que os alunos "desconfiam" de minhas "boas intenções" e raramente exprimem opiniões discordantes do que eu defendo. Ou, quando o fazem, ficam temerosos de serem reprovados por isso. A reprovação (ou não) é fruto do aproveitamento do aluno na disciplina e não tem nenhuma relação com o fato de concordar com minhas opiniões, ou buscar uma participação "politicamente mais correta".
Universidade é isso: debate e troca de idéias. A crítica e a discordância sempre vão ser coisas de difícil aceitação. A minha preocupação não é em ter fãs, alunos (ou macacos) treinados a reproduzirem minhas idéias. O que me move é a formação dos alunos; é tentar ajudá-los no processo de aprendizagem. E aprendizagem é um processo no qual o aluno é o principal agente ativo. Só aprende quem quer e quem busca superar os desafios. O que tento fazer é isso: propor desafios, muitos, para que vocês reflitam, indaguem, questionem e formem o vosso próprio conhecimento, não o meu, não o do professor "x" e nem o do Conarq, mas o de vocês, como agentes da própria formação pessoal. Vocês se lembram de qual foi o primeiro texto que passei em aula? Uma nota do Stephen Kanitz sobre aprendizagem (
veja aqui).
A provocação, a brincadeira fazem parte de minha estratégia de ensino, assim como a discussão aberta e franca. Aqui em Brasília noto que as pessoas têm muita dificuldade para conviver com isso: alunos de graduação que se sentem desconfortáveis em dar uma opinião, muitas vezes nem têm uma opinião própria; alunos de pós que ficam "ofendidos" com sugestões (supostamente indevidas) de colegas; alunos de pós que ficam "travados" com críticas de outros professores e correm chorando para o colo do orientador (isso me obrigou a uma postagem específica,
veja aqui); alunos de graduação que ficam "sacando" o professor para ver se descobrem onde está a "pegadinha"; alunos de graduação que ficam polemizando e "testando" o professor; etc. etc. etc.
Da terra de onde venho, São Paulo, a brincadeira faz parte de nosso cotidiano e, como disse uma vez o maior filósofo corinthiano de todos os tempos, Vicente Matheus: quem está na chuva é para se queimar. Se eu brinco com vocês sou OBRIGADO a aceitar o troco. Certa vez fiquei "alugando" um aluno que foi na aula com o uniforme completo da Mancha Verde. Adivinhem qual foi o trabalho final dele: análise diplomática de um ingresso (obiviamente falso, posto que a informação não é verídica) de uma final entre palmeiras e o Glorioso Timão. Qual foi a nota do trabalho? Não lembro, mas não foi muito alta porque o trabalho tinha problemas e não porque me provocava. Ah, apesar disso ele foi aprovado. Não Matheus, não vou te aprovar, ou reprovar, porque você é, às vezes, implicante e chama o blog-mãe de blog-vó. A suas opiniões, pertinentes, ou não, adequadas, ou não, fazem parte do SEU processo de aprendizagem nessa disciplina. A equipe da disciplina provocou isso, abriu e estimulou esse espaço a ser utilizado. Às vezes sai faíscas? Sai sim. É normal. É sinal que os gurgumilhos estão trabalhando. Às vezes as tensões se elevam porque é normal que isso aconteça em equipes dinâmicas. Ah... se vocês tivessem (se é que já não têm pela rádio-fofoca) noção das faíscas que soem ocorrer na equipe do blog... Não Tatiana, Felipe e outros querubins, não quis desmerecer o blog de vocês e nem "infantizar" vosso trabalho ou ser homofóbico (falando nisso colei um adesivo na porta de minha sala e algum idiota arrancou).
A nota triste é que do Diploarte basicamente vejo Matheus e Fabiana participando e ele com temor de reprovação. O Felipe foi o único do Queer Beings que veio falar comigo. O Pedro Davi está sempre na área também, com alguma dose de polêmica. E os outros? Onde estão as opiniões dos outros alunos? Tá bom, reconheço, estou sendo injusto, tem mais gente que também participa com uma certa frequência (se você se enquadra nessa categoria, desculpe-me por não tê-lo citado nominalmente), mas, há uma maioria silenciosa que tenta se manter em um pseudo-anonimato bem comportado, "cumprindo tabela" apenas. Vai lá vez ou outra e faz um coment básico para marcar presença.
Só aprende quem se expõe, quem está aberto a correr riscos. Risco de crescer, de ver as certezas do atual mundinho serem questionadas e, pior ainda, questionadas em público, via web. É, a universidade e a ciência tem dessas coisas mesmo. Minha pequisa está lá no meu blog (
acesse aqui), sujeita a todo o tipo de opinião e comentário, para o bem e para o mal. Geralmente aquelas críticas mais fortes, bem FsDP mesmo, são as melhores, aquela que fazem a gente refletir e mudar o que estava fazendo. Vocês já repararam que não faço filtragem e mediação para publicação de coments? Quem quiser vai lá e escreve o que bem entender. Se não está à vontade para se identificar (o que é complicado) faz o coment como anônimo e pronto. Só ensina quem se expõe também e se dispõe a correr os riscos lado a lado com os aprendizes. Vocês imaginam o quanto um post desses me expõe?
Por favor, acusem-me (devida ou indevidamente, não importa) de ser grosso (como já fizeram), louco, desorganizado, arrogante, exigente, rígido, sério, de não ser feliz nas brincadeiras etc. (deixo à vocês o arrolamento de outras características), mas não me acusem de perseguir alunos. Dou aulas na universidade pública desde 1994 e me dedico muito às minhas funções docentes para ter esse tipo de atitude. Não me rebaixaria a isso.
VOLTAMOS AGORA PARA NOSSA PROGRAMAÇÃO NORMAL:
Clique na imagem para maiores detalhes
Postado por André Lopez