Foto copiada e recortada (por motívos de formatação e espaço) do Facebook de Isabella Ribeiro url = https://fbcdn-sphotos-h-a.akamaihd.net/hphotos-ak-prn2/t1.0-9/1377202_752231784811185_2735491714667401298_n.jpg Propriedade de Hugo Schaly Photography. Sem informações sobre os direitos de imagem das pessoas fotografadas. |
- A turma que se formou cursou a disciplina de Diplomática e Tipologia Documental em 1/2012, tendo sido um grupo bastante participativo, bastante dedicado, com blogs interessantes. Marcou ainda o inicio das atividades da disciplina em aulas ministradas no CEDOC; obrigado Tania Moura por abrir as portas do CEDOC às aulas de Diplomática e Tipologia e por apoiar sempre a disciplina...
- O final de ciclo discente coincidiu com a formatura de uma excelente equipe de monitores de DTD, que em muito ajudo o bom andamento da disciplina e a atualização do blog nos três últimos semestres: obrigado André Matheus Moreira, Daniela Larcher e Isabella Ribeiro por me ajudarem a não deixar a peteca cair nesses últimos 18 meses...
- Tive, por conta do trabalho realizado com esses alunos, o privilegio de ser designado como paraninfo da turma; uma honra muito especial para mim; obrigado à turma 1/2014 pelo reconhecimento e pela homenagem...
- O discurso dos paraninfos coube à colega da Museologia, que, com muita competência e qualidade, foi capaz de prender a atenção do enorme público, que pode, por uns minutos se esquecer da distração festiva e admirar sua narrativa; obrigado professora (e amiga) Elizângela Carrijo pelas sábias palavras, que tão bem puderam representar o sentimento interdisciplinar dos arquivos, em um discurso que eu desejaria ser capaz de fazer:
BOA NOITE!
Cumprimento o Decano de Ensino de Graduação, professor Mauro Luiz Rabelo, e em seu nome cumprimento os demais membros da mesa apresentados anteriormente.
Boa noite familiares, amigos e colegas aqui presentes.
Boa noite formandos e formandas da Biblioteconomia, da Arquivologia e, é claro, da Museologia com quem pude conviver mais de perto e a quem AGRADEÇO o carinhoso convite de ser paraninfa.
É com muito respeito que também falo pela professora Dulce Maria Batista, paraninfa da Biblioteconomia, e pelo professor André Ancona Lopez, paraninfo da Arquivologia.
Histórias são presentes especiais. Tem vida.
Quando alguém conta uma história para outro alguém, está, na verdade, compartilhando vida. Alimentando o fluxo do universo. Soprando movimento ao mundo das ideias. Dando laço nas relações.
Não é à toa que uma história puxa outra. Não é casual o fato de escutarmos uma história e nossa imaginação ser ativada. Dizem até que as histórias, com sua potencia de vida, curam doenças da alma e trazem soluções aos grandes enigmas. Por isso, hoje, dia tão especial, só poderia vir até aqui para oferecer como presente, uma história.
Sigamos em atenção porque é uma das antigas. Traz parte da memória dos nossos antepassados da Grécia. Com aqueles personagens do Olimpo e suas peripécias de titãs, natureza, deuses e deusas.
Sendo a história escolhida de hoje a de Dâmocles com Dionísio.
"Dâmocles era um súdito de Dionísio, administrava tudo sem contestações. Seu poder era absoluto e sua palavra, a lei. Vangloriava-se de ser Todo-Poderoso e vivia submerso nas delícias e vantagens do poder. Sempre que podia, Dâmocles expressava seu sonho de um dia poder ter à mão tudo o que desejasse."
"Dâmocles insistiu tanto nesse desejo que Dionísio resolveu revelar-lhe as angústias do poder. Convidou-o para ser rei por um dia, com direito a coroa, cetro, banquete e tudo o mais. Mandou, porém, colocar uma espada em cima do trono, presa por um fio de crina de cavalo.""Dâmocles exultou. Finalmente seu sonho seria realizado. Vestiu-se com pompa, assumiu a condição de rei e mergulhou no banquete em sua homenagem. Porém, no meio da festa, levantou os olhos e viu, sobre sua cabeça, a espada ameaçadora, que poderia a qualquer momento decepá-lo. Engoliu em seco, ficou morrendo de medo, mas entendeu nessa hora o que são as angústias do poder."
Alguns poderiam me perguntar: qual a relação dessa história com este momento?
Vejamos:
Hoje, cada um dos formandos e formandas aqui presente sairá com o poder do canudo nas mãos. Oficialmente eles e elas usufruirão das merecidas pompas de serem reconhecidos como profissionais preparados para o mercado de trabalho. Aliás, diga-se de passagem, estamos falando de um mercado forte e estratégico. Porque lida diretamente com informação, cultura, comunicação e memória. Elementos básicos de poder da sociedade humana.
Hoje, a Universidade de Brasília, criada por Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Agostinho da Silva e outros oficializa a entrada de vocês às estatísticas referentes às minorias que recebem diploma do Ensino Superior e Público no Brasil.
Segundo os dados do Censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve crescimento no número de brasileiros com diploma universitário na última década. O percentual geral aumentou de 4,4% em 2000 para 7,9% em 2010. Ou seja, hoje vocês estão entrando para o seleto grupo dos 7,9% do Brasil. E também para os 17,6% dos formandos do Distrito Federal. Cidade com maior número de estudantes que concluem o ensino superior, deixando para segundo e terceiro lugar, respectivamente, São Paulo (11,7%) e Rio de Janeiro (10.9%).
Esse fato merece todas as homenagens. Há que celebrar a nova condição social. E certamente as bênçãos dos pais, dos amigos, dos amores já foram ofertadas. Hoje o rito de passagem está sendo feito. A universidade está encerrando a parte dela. Tal qual Dionísio torna seus desejos realidade. Oferta um banquete de celebração e fornece às suas mãos o poder do cetro, o poder do diploma, as glórias das batas.
Tal qual o presente de Dionísio a Dâmocles, esse poder e glória banqueteados nesta colação são acompanhados pela “angustia do poder”. Angustia de Dâmocles com poder e cetro. Angustia provocada pela simbólica espada presa em fio de crina de cavalo e pendurada sobre a cabeça coroada.
É preciso notar que a espada significa a vulnerabilidade e a transitoriedade das situações. Nos lembra que todo poder é ilusório; tem limite; se rompe por um triz; fere e até mesmo mata. O poder é afiado e está apontado para a cabeça, local vital para as tomadas de decisões. A cena nos ensina que a honra da pompa está à mercê do poder com seu sentido de finito e morte.
É bom que seja assim. É bom saber que a vida é repleta de sabores e de belezas e, ao mesmo tempo, exigente de atenção e de responsabilidade. Saber usufruir do banquete de Dionísio sem perder o olhar atento à espada exige de Dâmocles sabedoria e equilíbrio. Porque o cetro-diploma-poder vem necessariamente acompanhado pela espada sobre a cabeça. Não há como ter um sem o outro. Trata-se do eterno ônus que acompanha qualquer bônus.
Essa espada acompanhará suas cabeças a partir de hoje. Que ela seja a presença da ética em corresponder à sociedade o que ela depositou em vocês por meio do dinheiro público da universidade gratuita. A presença da responsabilidade que assume posturas e escolhas. A presença do rigor da boa qualidade de trabalho a ser prestado em qualquer lugar por onde se vá. A presença do respeito ao outro, em aprender com o novo e o exercício do amor. A lembrança da sua obrigatoriedade em tomar novas atitudes na vida.
Saibam, novas atitudes geram sapiência frente à sutileza de um fio. Novas atitudes representam o fortalecimento do fio da crina de cavalo, para que ele não se rompa e para que o poder não o degole. Novas atitudes representam sapiência. E como diria nossa poetisa Cora Coralina,
“O saber a gente aprende com os mestres e os livros.A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes”.O saber vocês conquistaram... a sabedoria, não... é preciso ainda seguir na caminhada para um dia (quem sabe?!) conquistá-la.
Que esta história puxe outra... é assim no ciclo da vida. No seu mais forte esplendor de enigma, celebração, simplicidade, humildade e amor.
Um abraço forte, com todos os parabéns e felicitações que este momento merece.
Boa noite!
Elizângela Carrijo. Discurso de paraninfa para turma de formandos
da FCI no 1o semestre de 2014. Brasília, UnB, 14 de abril de 2014
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André Lopez