Muitas vezes, por conta de uma brincadeira didática, acabo exemplificando em aula que para que melhor possamos conhecer um animal precisamos saber suas características básicas. Assim, a resposta à indagação sobre qual animal é doméstico, tem 4 patas e cauda pode nos levar a vários bichos distintos, do mesmo modo que ocorreria se fôssemos tentar identificar um documento apenas sabendo que é de plástico, textual e com formato cartão. As corretas perguntas e o suficiente nível de detalhamento sobre os documentos farão com que a diplomática tenha maior o menor efetividade.
Após a identificação de "que bicho é?" necessitamos saber ainda, pela tipologia, "a qual função se presta no arquivo?", posto que, às vezes os documentos podem ter funções distintas daquelas administrativas, para as quais foram criados (por exemplo uma conta telefônica usada como comprovante de endereço). Na brincadeira didática, costumo acrescentar às 4 patas e à cauda duas outras características: fazer muuu e ter chifres. Após os alunos, diplomaticamente, conseguirem identificar o animal como um bovino, fica a indagação sobre a função: corte ou leite, que nos seria dada pela tipologia.
O exemplo acima é deveras esquemático e serve apenas como um recurso didático, aplicado em um contexto bem específico, no qual há uma discussão bem mais profunda sobre os conceitos envolvidos, além de exemplos verdadeiramente arquivísticos. De qualquer modo, a analogia com os animais poderia remeter aos antigos bestiários medievais, nos quais se procedia a uma descrição e qualificação extensiva de animais (reais e imaginários) de uma dada região (geralmente muito pouco conhecida). A simpaticíssima arquivista estadunidense Trudy Peterson tem um excelente, divertido (e muito preciso artigo) sobre o que seria um bestiário arquivístico na
American Archivist, Vol. 54, Spring 1991.