Há cerca de uma semana, por meio de um
Decreto Federal, o acervo documental privado de César Lattes foi declarado de interesse público e social. Mas peraí! Se a única coisa que você sabe sobre Lattes é que ele serve de nome a uma plataforma curricular ou nem mesmo isso, você não pode deixar de ler esse post.
Cesare Mansueto Giulio Lattes revolucionou o estudo da física no país. O pesquisador, um dos maiores cientistas brasileiros, estudou na USP e seguiu para Londres onde aos 23 anos descobriu o que muitos pesquisadores da Europa e Estados Unidos tentavam há muito identificar: a
partícula méson pi (ou píon).
Logo após, escreveu um artigo científico que relatava sua descoberta sobre a tal partícula responsável pelo comportamento das forças nucleares. A partir de então sua carreira deslanchou e lhe proporcionou diversos prêmios, dos quais podem-se destacar o Prêmio Einstein (1950), o Prêmio Fonseca Costa, do CNPq -Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1958), a Medalha Santos Dumont (1989), a Medalha comemorativa dos 25 anos da SBPC e placa comemorativa dos 40 anos dessa sociedade, o símbolo do Município de Campinas (1992), além de uma indicação ao Nobel de Física em 1950.
Um pequeno
acervo informacional virtual sobre o pesquisador é disponibilizado pela Unicamp. Lattes acabou deixando suas marcas não apenas na área da Física, mas em diversos campos do saber. Sua contribuição pode ser sentida ainda hoje até mesmo nas agências nacionais de incentivo à pesquisa. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por exemplo; dentro de diversas ações relevantes, criou um banco de dados de pesquisadores baseada no uso de currículos, denominado de
currículo lattes. Essa base de dados lançada em 1999 serve de modelo e também referência no que tange à pesquisa científica no país. Estima-se que hoje existam mais de 100 mil currículos cadastrados na plataforma Lattes.
Apesar de tudo, o que mais intriga é como o incentivo à pesquisa científica no Brasil ainda precisa ser melhorado. Pesquisadores que dedicam uma vida inteira aos estudos e ao desenvolvimento do país passam, na grande maioria das vezes, incógnitas até mesmo no meio científico. A que será que se deve isso? Falta de apoio governamental à pesquisa? Falta de reconhecimento por parte da população? Falta de interesse? Não se sabe...
E em relação aos aspectos arquivísticos, o que é necessário e o que significa dar a um acervo privado o status de acervo de "interesse público e social"? Quais implicações isso acarreta ao seu custodiador e ao próprio acervo em si? O que garante que ele seja organizado da maneira mais adequada?
Ainda sim parece haver uma razão incompreensível em se continuar desenvolvendo pesquisa no Brasil. É mais que merecido declarar de interesse público e social o acervo documental privado de César Lattes. No entanto, não é o suficiente para que ele e sua obra ganhem a repercussão e o "interesse" que de fato merecem.
Como pode se perceber, aquele que desenvolve uma pesquisa tem desafios que vão muito além do seu objeto de estudo. O pesquisador na verdade é um desafiador, desafia a si, o mundo e a cada um a buscar respostas ou ainda maiores indagações e pontos de vista sobre determinado assunto.
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Postado por: Fabrício Carpaneda