20 junho 2012

Afinal somos uma "Ciência da Informação", ou uma "Ciência Documentária"?

Copiado de Jornale
Muito se discute sobre a precedência ou não do suporte para a existência de documentos arquivísticos autênticos e capazes de exercer o valor probatório, responsável pela criação deles. A discussão que impõe uma reflexão mais acurada sobre o espaço disciplinar dos arquivos na Ciência da Informação já foi objeto de debate neste blog como pode ser visto do post de Kenji Inazawa e na enorme quantidade de comentários discentes ali colocados. Em um limite extremo poderíamos dizer que a queima de livros tidos como não necessários, ou porque desagradam ao poder, ou porque são supérfluos, já que estão "nas nuvens" (ou seria "no mundo da Lua?") equivaleria a querer ter arquivos sem acervos físicos, somente com dados eletrônicos? A discussão que já deu margem a muitas teses volta hoje à tona com a temática da computação em nuvens e com o abandono do suporte impulsionado, sobretudo, pela recente febre dos e-books. Veja, por exemplo, as diretrizes dos Arquivos Nacionais da Austrálida sobre gestão documental nas núvens (disponível aqui). Taiguara Vilela, em contribuição especial para este blog, compartilha algumas ideias iniciais suas sobre o tema.



Arquivologia pós-custodial

Taiguara Vilela
(professor de Arquivologia da UFES)
O “pós-custodial” perpetua o conceito de pós-custódia do australiano Peter Scott da década de 90. Essa proposta decorreu da noção de que, em um ambiente digital, os arquivos não teriam mais que assumir a custódia física dos documentos para desempenhar suas funções. Esta noção é correspondente ao “senso comum” de que os documentos digitais estão nas “nuvens”, quando de fato o suporte eletrônico – que não é novo existindo desde a década de 40 do século passado a partir do desenvolvimento do “Electronic Numerical Integrator and Computer” – é obviamente dotado de materialidade física onde os arquivos eletrônicos, aos quais se observa inexistência de acondicionamento, sempre dependem e dependerão de armazenamento em hardware, seja na máquina do usuário ou em outras máquinas rede via web. Tratou-se, portanto, de uma idéia nascida na década de 90 do século passado, época de popularização dos computadores, e foi baseada no desconhecimento tecnológico sobre como os arquivos eletrônicos são armazenados em disco rígido ou outros suportes, e no desentendimento de como são regidos por uma lógica binária e matemática de forma que sua visualização é simulacro que em nada altera sua materialidade – ou seja, não “retira” o arquivo do mundo físico, como se tal coisa fosse possível e aceitável ao crivo científico materialista que rejeita qualquer fenômeno paranormal de “desmaterialização”. Os próprios australianos que inventaram esta noção abandonaram oficialmente a idéia equivocada da pós-custódia em experiências no Arquivo Nacional Australiano, segundo Stuckey. (Para um aprofundamento ver: ERLANDSON, ALF. Eletronic records management: a literature review. Paris, International Council on Archives, 1997).
O retorno do “pós-custodialismo” como um novo paradigma: Se o pesquisador não for capaz de compreender que a ciência, enquanto conhecimento, é multipradigmática pode sobrepor ou substituir um paradigma por outro. Para ilustrar: uma perspectiva gnosiológica empirista centrada em estruturas poderia parecer aos olhos de outras áreas somente explicativas que seu paradigma deixa de lado aspectos relevantes de fundamentação epistemológica, entretanto, a relevância e o enfoque podem diferir dentro de uma mesma ciência e assim se formam correntes de pensamento distintas. Apesar de ser pupilo do neopositivista Karl Popper, foi a partir do estruturalista Ferdinand de Saussure, o primeiro a popularizar a noção de associações paradigmáticas, que Thomas Kuhn retirou sua base para escrever “Estrutura das Revoluções Científicas” – livro pelo qual ficou conhecido. O próprio mestre de Kuhn o rejeitou em termos teóricos, o renomado Sir Karl Popper, possui uma teoria do Conhecimento Objetivo (Cf MIRANDA, 2002) interessante para comunidade científica no que tange a relação entre o ciclo de dados objetivos, informação e conhecimento científico. Somando a teoria popperiana da objetividade, há de se atentar com cuidado aos Doutores Lakatos e Musrave que demonstram uma falha básica na noção kuhniana de “paradigma”: desconheceu que as ciências são multiparadigmáticas e este equívoco primário levou a uniformidade e “pasteurização” do seu conceito com amarras sociológicas que não levaram em conta diferentes paradigmas conviventes e válidos, gnosiologias, ontologías e epistemologías na mesma ciência. (Para um aprofundamento ver: LAKATOS, MUSGRAVE Criticism and the Growth of Knowledge. Cambridge: Cambridge University Press. 1970)
Referencia citada: MIRANDA, Antonio. “A Ciência da Informação e Teoria do Conhecimento. Objetivo: um relacionamento necessário”. In Campo da Ciência da Informação: gênese, conexões e especificidades. João Pessoa: Editora da UFPb, 2002.


Proposta de atividade: pensar como ficariam os arquivos-foco do blog de seu grupo em uma proposta pós-custodial.

Atividade optativa para os alunos da UnB, a ser realizada até às 18:59hs do dia 06/julho/2012 para valer pontos para o presente semestre. Para os demais interessados não há prazo final.


André Lopez

6 comentários:

  1. Eu entendi desse modo tendo como base um artigo de Djalma Mandu de brito, sobre a arquivologia pós-custodial, disponível em PDF na seguinte URL: http://www.arquivistica.net/ojs/viewarticle.php?id=12... Pode-se dizer que segundo ele a informação presente nos "arquivos é bem mais importante do que o suporte que o acondiciona", esteja ele em ambiente digital ou não, por isso tratar de todas as informações presentes seriam bem mais importantes do que tratar do meio/suporte ao qual elas estão inseridas, isso poderia cair no exemplo dado pelo professor, que podería,os começar a queimar todos os livros. Ele ressalta que não existe ainda um "consenso", sobre o assunto, mas até onde podemos aprender ou compreender durante o semestre e a disciplina a qual estamos cursando, a arquivologia é bem mais do que a preservação da informação....os documentos arquivísticos também possuem valor histórico, comprobatório...

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  2. O meu grupo, investigando o DPP (em especial o processo de PIBIC) descobriu que toda a documentação já se encontra "nas nuvens" pois todo o tramitê já é feito em meio digital e a documentação já nasce em meio digital.
    Essa ideia do Pós-Custodial (agora vamos tratar assim a armazenagem da nossa documentação) se mostra um tanto interessante porque facilita o acesso a documetnação por parte de todos que precisam dela acessar. Contudo não estamos certos sobre a segurança da informação exibida e sobre a garantia de que não será perdida se ocorrer problemas no sistema.
    O grupo em particular, considera o meio uma tendência, pois cada vez o espaço físico está menos disponível e cada vez mais caro (manter arquivos é algo caro) e o meio digital se torna uma forma de armazenar muitos documentos em pouco espaço.
    Contudo pelas nossas observações sobre o PIBIC, tememos pela segurança da informação (ela se perder ou ser adulterada) e também não estamos seguros se havera um plano de Gestão Documental, ou apenas será transferida a bagundaça do físico para o digital.
    Com um plano de Gestão bem elaborado, acreditamos que arquivos nas nuvens podem muito bem ser aliados dos Arquivos na execução de sua principal atividade, A Recuperação da Informação.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Com a leitura do texto "A Informação Arquivística na Arquivologia Pós-Custodial" entendi que a Arquivística Pós-Custodial tem como objeto de trabalho e pesquisa o conteúdo informacional do documento e não o documento em si. Sendo assim, a proposta da Arquivística Pós-Custodial é a substituiçao do objeto atual da Arquivística (que seria o documento) pela informação arquivística. Tendo como base essa idéia, os arquivos do blog do meu grupo estariam dispostos pelas suas informações e não pelo mero suporte, modo de armazenar, ou somente para servir para essa disciplina e, sim para servir para todas as áreas da Ciência.

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  5. Se bem entendi o conceito de Arquivologia pós-custodial, em que se busca transformar a disciplina Arquivística como pertencente à Ciência da Informação, é necessário de acordo com o que propõe o modelo, a mudança/avanço das teorias e práticas arquivísticas para que a cientificidade passe a ser o ponto central da Arquivologia. Esse modelo sugere indagações a respeito do objeto de estudo preponderante da Arquivologia, que é o documento, propondo a substituição pelo objeto informação. Desse modo, e pensando no que Taiguara Vilela disse, a arquivística deixaria de se preocupar com o suporte da informação, como no exemplo dos arquivos em ambientes digitais que para o senso comum não necessitariam de custódia física, e se preocuparia em tratar as informações arquivisticas existentes nos sistemas de informação, sejam eles de ambientes virtuais ou não. Nessa perspectiva e pensando nos arquivos-foco do blog, é possível compreender que nos desprenderíamos do paradigma de que os arquivos custodiados por nós não serviriam unicamente como prova documental de que realizamos tais atividades, eles seriam tratados de modo que valeriam para outras ciências. A Arquivologia seria bem mais do que preservação de documentos, seria a custódia de informações que darão suporte a variadas atividades, e insumo para as ciências interdisciplinares.

    Referências Bibliográficas:

    http://www.arquivistica.net/ojs/viewarticle.php?id=12...

    Aluno: Leonardo de Sousa Braga 10/0015280

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  6. Roseane Mina Iha
    Matrícula: 10/0039928
    Entendi que o conceito “pós-custodial” perpetuado pelo australiano Peter Scott da década de 90, em uma época de popularização dos computadores e desconhecimento tecnológico sobre como os arquivos eletrônicos, refere-se a uma possibilidade de os arquivos não terem mais que assumir a custódia física dos documentos para desempenhar suas funções, funcionando basicamente e supostamente da mesma forma que a computação em nuvem (do inglês “cloud computing”), onde não precisa instalar aplicativos no computador para acessar arquivos e executar diferentes tarefas pela internet, pois pode acessar diferentes serviços online para fazer o que precisa, já que os dados não se encontram em um computador específico, mas sim em uma “nuvem” (espaço de processamento e armazenamento de dados que não depende de nenhuma máquina específica para existir, uma rede). Fatos que antes não eram discutidos antes do surgimento da internet, pois na prática, se recuperava os documentos (informação mais suporte) para se ter informação, e se buscava informação através desses, segundo a postagem do dia 27 de maio de 2011 de Fernandez Kenji Inazawa (O conceito de informação para a ciência da Informação: uma breve reflexão) disponível no Link: < http://diplomaticaetipologia.blogspot.com.br/2011/05/informacao-para-ciencia-da-informacao.html >. Desta forma não seria de necessidade a precedência ou não do suporte para a existência de documentos arquivísticos, a computação em nuvens significaria o abandono do suporte.
    Dessa forma, os arquivos estudados pelo meu grupo em uma proposta pós-custodial, seriam mantidos e transmitidos da mesma forma que ocorreu no filme Fahrenheit 451 (adaptação cinematográfica do romance homônimo de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut em 1966), onde em um regime totalitário, os livros e toda forma de escrita eram proibidos sob o argumento de que faziam as pessoas infelizes e improdutivas e por isso a pessoa era perseguida e o documento escrito era queimado, mas existia um refúgio chamado de “terra dos homens-livro”, onde as pessoas memorizavam, decoravam os livros, para publicá-los quando não fossem mais proibidos. Assim, os arquivos, foco do blog de meu grupo em uma proposta pós-custodial, ficariam guardados na memória de cada indivíduo específico ou em uma “nuvem”(lugar onde uma porção crescente de informações digitais produzidas por pessoas e empresas está sendo processada e guardada em centros de computação espalhados pelo mundo, mas conectados entre si) segundo a modalidade de atividades de extensão primeiramente (Cursos de Extensão, Eventos, Projetos de Extensão de Ação Contínua, Programas Especiais, Programas Permanentes) e pelos respectivos anos, sendo disponibilizados e acessados de forma oral (para os memorizados por indivíduos específicos) ou por vários tipos de aparelhos: PCs, netbooks ou telefones celulares, uma vez que as pessoas teriam acesso aos dados digitais de qualquer lugar e tempo.
    Fonte:
    Amoroso, Danilo. O que é Computação em Nuvens: Cada vez mais, a computação em nuvens está presente no cotidiano. Mas do que se trata essa tecnologia?. Disponível em: < http://www.tecmundo.com.br/computacao-em-nuvem/738-o-que-e-computacao-em-nuvens-.htm >. Acesso em: 06 jul. 2012.
    Rydlewski ,Carlos. O Big Bang da internet: A “computação em nuvem” é o embrião da inteligência coletiva que fará a verdadeira revolução digital. Edição 2125. Editora Abril, 2009. p. 62-72.

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