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"Diz-me com quem andas e te direi que és". A velha máxima poderia ser recontextualizada da seguinte forma: "Diz-me como estudas e te direi que profissional serás". Em diferentes posts deste blog a questão da formação profissional vem sendo discutida. Uma preocupação constante tem sido com o mercado de trabalho e outra com o tipo/qualidade do curso. Em Brasília, cidade que uma vez me foi referida como "Concursolândia", o sucesso profissional acaba sendo, infelizmente, confundido com uma vaga em concurso público, para o qual o que mais importa é o estudo ad nauseum de conteúdos e mais conteúdos. O profissional "bem formado" por essa lógica obscura seria aquele capaz de ter um bom desempenho em um teste de concurso e não alguém capaz de executar proativamente as tarefas demandas por um arquivo.
Muitos concurseiros passam anos colecionando conteúdos sem terem condições de colocá-los em prática em situações reais efetivas. O colecionismo de conteúdos passa não apenas pela decoreba de livros e apostílas de teor científico duvidoso, mas também por exaustivas sessões de lavagem cerebral nos inúmeros cursinhos preparatórios que aqui existem. Nesse caso a inversão de valores atinge o ápice ao excluir a universidade da atividade formativa, delegando tal papel a cursos não credenciados pelo MEC. Neles, pelo menos, os textos, quando existem, são sempre em português e não há nenhuma incômoda cobrança quanto a um raciocínio crítico e analítico, pelo contrário.
Dentro de tal lógica perversa os estágios acabam servindo como autênticos bicos, muitas vezes com atividades alheias à formação profissional, e acrescentam mais uma engrenagem ao invertido sistema. O estudante finge que estuda (pois colecionará conteúdos depois de se formar, nos cursos preparatórios) enquanto finge que trabalha para melhorar sua formação (e consegue algum dinheiro para se sustentar).
Nesse sistema, felizmente, alguns professores se negam a encenar a farsa e alguns cursos colocam travas para o reconhecimento do estágio. Os alunos que se negam a participar do engodo e aproveitam ao máximo a oportunidade que lhes é dada (recebendo muitas vezes bibliografia internacional) costumam ser excelentes profissionais. A maioria concursados (alguns aprovados antes de concluírem a graduação, sem terem necessitado de curso preparatório); alguns fazem pós (a pós de verdade, stricto sensu, não especializações duvidosas) e chegam até a publicar textos em livros espanhois, como o Rodrigo Fortes (baixe o e-book aqui, o capítulo começa na pág. 1086).
Os dois divertidos vídeos adiante mostram uma caricatura de estagiário que, infelizmente, tem alguma correspondência na realidade e que permitem elocubrar qual seria a caricatura dessa personagem em relação aos estudos.
Publicado por André Lopez
Professor André,
ResponderExcluirO que o Sr. disse sobre os estágios é a mais pura verdade. Nós, estudantes de arquivologia, quando vamos estagiar dificilmente executamos atividades da nossa área, ficamos a disposição para Xerox e atendimento de telefones.
Quanto ao concurso público, não acho errado querer passar num concurso, até mesmo por que os órgãos públicos precisam, urgentente, de arquivistas. O que me chateia é que o curso de Arquivologia se tornou um daqueles cursos que se faz para ingressar, mais facilmente, num cargo público. Como a febre do direito.
Saí do 2º grau, não sei o que fazer, vou fazer direito ou arquivologia....para depois fazer concurso. LAMENTÁVEL.
E diante disso, o que se vê são alunos que não gostam do curso, arquivologia, desestimulados também pelos estágios, mas que continuam a cursar, pois daqui poucos semestres vão se formar!
Os alunos que gostam do que estudam não se incomodam com metodologia de aula, textos em outras línguas e formas de avaliação. Esse aluno está preocupado em ler, toda bibliografia indicada é bem vinda, aprender com o seu professor e trocar experiências com ele, afinal, o conhecimento acadêmico que um professor pode passar para um aluno vale muito mais que as decorebas de concurseiros.
De fato a UnB não é para todos, e eu diria também que não é para os acomodados, aqueles que esperavam levar o curso até o final sem muito esforço uma hora vão levam uma "sacudida".
O que acontece professor André, é que muita gente se incomoda quando saem da sua posição de conforto, seja pelas aulas e tarefas que exigem mais participação, seja por aquela matéria que exige mais leitura do aluno. Para pessoas assim é inconcebível a idéia de dispor do seu feriado ou final de semana para os estudos. É exatamente aquilo que o Sr. disse no inicio do texto "Diz-me como estudas e te direi que profissional serás".
Lamento profundamente que existam aqueles que persistem em "cursar" Arquivologia sem valorizar o conhecimento acadêmico e didático que se pode ter e também a experiência única de estar numa universidade pública com os melhores professores.
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ResponderExcluirFica claro que não é possível explicar o deprimente estado da educação no brasil unicamente a partir de fórmulas que culpabilizem o governo x ou y.
ResponderExcluirConstruir uma compreensão crítica do mundo, desenvolver habilidades e competências para execução de um ofício, atingir uma posição profissional desejável dependem muito mais das atitudes e comportamento do indivíduo do que da estrutura que lhe é disponibilizada.
Uma amiga minha me contou o diálogo com a filha dela um dia desses:
- mãe, acho que vou fazer supletivo.
- por que???
- Acho que não vou conseguir passar.
- Como assim não vai conseguir??? Ainda estamos em Abril!
A filha dela já reprovou o 2° do 2° grau ano passado. Está numa das melhores escolas que o dinheiro pode pagar, e mesmo assim não tem interesse nenhum.
De outro lado, conheço gente que em início de graduação trabalhava no Mac pra ajudar em casa, ía da UnB pra Rodoviária a pé pq estava sem dinheiro e não podia se dar ao luxo de gastar 2 passes estudantis por dia. O cara formou em Economia, sempre muito interessado nos temas, corria atrás do próprio conhecimento, aproveitou a estrutura (não excelente, mas honesta) que a UnB, que o contribuinte, lhe ofereceu; hoje ele está como Gestor no MPOG, um dos cargos estruturantes das políticas públicas no país. Sabe, é tudo questão de esforço, interesse, e sei que esse discurso é familiar pra muitos dos alunos da UnB.
É importante aprender a ler não só os livros, mas também a vida.
Pra quem ainda está comendo mosca, sempre há a esperança que com o tempo a maturidade ajude a ligar os pontinhos.
Temos que nos atentar os problemas,as causas do atraso, não estão nas instituições/fatos políticos e econômicos; estão na mentalidade e no comportamento dos indivíduos.
Realmente há em Brasília uma preocupação extremamente exagerada em adiquirir conhecimentos teóricos sem estarem relacionados a nenhuma prática, tudo para se conseguir uma vaga no cobiçado serviço público. Há também a falta de cursos de formação que apliquem os conhecimentos à prática. A Universidade tem um papel importante nesse contexto, pois aqui temos a oportunidade de estudarmos casos práticos onde raciocinamos como a teoria pode ser aplicada de acordo com cada situação, como por exemplo, na elaboração e adeptação de um plano de classificação de documentos em um orgão público ou particular.
ResponderExcluirQuero deixam bem claro ao professor e a toda a truma: EU não escrevi posts ofendendo o professor.
ResponderExcluirIsso é uma grande imaturidade, por mais que as pessoas discordem umas das outras.
O que cabe a gente é ir atrás de ler as bibliografias do curso, consultar os blogs de semestres passados, tirar o máximo de proveito que as aulas e fazer as atividades que puderem ser feitas por cada um.
Se os professores na UnB têm seus métodos, o que cabe a gente é nos adaptarmos a eles. Fazer críticas ,tudo bem, mas sem ofender ninguém.
É altamente possivel e normal aliar o aprendizado adiquirido na faculdade para concurso publico, principalmente se o concurso for destinado ao cargo de Arquivista. claro que existem pessoas que fazem arquivologia somente para ter um curso superior pra fazer um concurso de nível superior(menor concorrência) e a unica utilidade que ele fará do curso que fez será a de marcar as bolinhas na parte da prova destinada à arquivologia. essas pessoas não me preocupam, pois não representam perigo algum à minha pessoa, esssas pessoas prejudicam sim o curso de arquivologia, que ficará queimado na primeira oportunidade que for perguntado ou precisarem dele para uma questão arquivística.. a pessoa que solicitou a ajuda ficara se indagando.. ele é formado?
ResponderExcluiresses tipos de pessoas levaram todo seu curso nas coxas e na questão do estagio não poderia ser diferente.. procuravam os que pagavam melhor para não fazerem nada.. e a queimação começava cedo!
Nada contra os concursos. Eles devem ser decorrência de uma boa formação e um desejo de ser um bom profissional.
ResponderExcluirPara quem não sabe, a "Lanchonete do Roberto" é um ótimo exemplo de grupo de estudantes de diplomática que passaram a se preocupar em estudar e aprender (ao invés de acumular conhecimento), e que continuam a tentar relacionar os temas da Arquivologia com a experiência cotidianas, conforme pode ser visto nas postagens do blog, que segue ativo mesmo vários meses depois do término da obrigatoriedade de postar imposta pela disciplina DTD.
Acessem Lanchonete do Roberto e confiram.