20 setembro 2010

ARQUIVÍSTICA POP

Nos blogs vinculados à disciplina, produções da cultura pop têm sido, recorrentemente, utilizadas como pano de fundo para discussão de conceitos ligados à Diplomática e à Arquivologia. Confirmem essa constatação relendo alguns posts do semestre passado, onde foram explorados filmes como Os irresistíveis Falsários, El Secreto de Sus Ojos, Ilha do Medo, Brazil e Os Falsários.

Escrever de forma leve, criativa, falando da informação arquivística (e seu universo) como algo presente no cotidiano de todos é uma prática que merece ser desenvolvida e encorajada.

Não é raro encontrar nas outras áreas produções, best sellers inclusive, que tratam de assuntos sérios, mas de uma forma acessível ao grande público. Basta ir a qualquer livraria e observar alguns títulos provenientes, por exemplo, da Administração "Quem mexeu no meu queijo", "Como enrolar seu chefe e progredir na empresa"; da Economia "Freakonomics" [freak mesmo!], "O economista clandestino"; ou mesmo da Filosofia "Metallica e a Filosofia: Um Curso Intensivo de Cirurgia Cerebral", "Família Soprano e a Filosofia: Mato, Logo Existo!", Super-Heróis e a filosofia - Verdade, justiça e o caminho socrático".

Essas obras, a partir de narrações alegóricas, apresentam as teorias, métodos e práticas das respectivas áreas de um jeito menos formal e indigesto. A quase promessa de textos diferenciados presente já nos títulos e subtítulos é capaz de atrair qualquer tipo de leitor. Quem não estuda ou trabalha diretamente com Administração, Economia ou Filosofia tem a chance de se familiarizar com os problemas levantados por esses campos do conhecimento e também, num segundo momento, valorar, a seu modo, as soluções e reflexões propostas.

Agora, por que na Arquivologia são tão raras produções dessa natureza? Por que para nós continua tão difícil produzir coisas que fujam da esquizofrenia das apostilas de concurso e manuais de arquivo? Muitas vezes parecemos sufocados pela ligação íntima entre os Arquivos e a proposta do Estado Democrático de Direito, mas em última análise a Arquivologia não é um saber de Estado e podemos, sim, raciocinar fora do cercadinho das burocracias.

É preciso diversificar e dar novos sabores à literatura da área de Arquivologia; os blogs, vistos como incubadoras de idéias onde não há limites para a criatividade, podem ajudar no desenvolvimento desse novo segmento de produção intelectual.

Como exercício, seria muito interessante se, futuramente, os blogueiros diplomáticos de cada semestre se interessassem em compilar, editar e publicar (digitalmente mesmo) um compêndio com seus pequenos ensaios sobre possíveis relações entre a Diplomática/Arquivística e obras do cinema, teatro, música, televisão etc. Pode ser uma estratégia válida na busca do reconhecimento social que tanto almejamos e porque não, também, dos nossos 15 minutos de fama.

Aos interessados, fica a promessa de cooperação de um grande entusiasta da idéia.

Postado por Leonardo Neves Moreira.


6 comentários:

  1. A produção teórica arquivística, sobretudo no Brasil, é insipiente. Aqui jaz a idéia do arquivista-técnicista.

    No mês passado, uma amiga arquivista entra em contado comigo e questiona se eu não conhecia uma espécie de "livro-roteiro" que explicasse detalhadamente como produzir e preservar documentos em meio digital. Indiquei algumas publicações, mas ela disse que não servia. Em outras palavras, ela desejava tudo "mastigado". Recusou-se a pensar.

    Pensar: este verbo é o "X" da questão. Quanto penso numa corrente teórica eminentemente brasileira para a Arquivística, não tenho respostas.

    O espírito prático dos arquivistas também explica o porquê de apostilas quase que excluvivamente voltadas para concursos públicos: ganhar dinheiro. O que vende é material de concursos. Esta é a resposta. Quem vai produzir um texto que ninguém (ou quase) "compria"? Nâo adianta filosofar de barriga vazia.

    Outras questões é o fato do público arquivista ser pequeno; haver pouca notoriedade deste profissional junto à sociedade e assim por diante.

    Da minha parte, posso dizer que tenho algumas idéias, do ponto de vista teórico, para serem desenvolvidas, mas não é o momento. Primeiro preciso resolver outro problema mais prático: ganhar dinheiro.

    Como disse, não adianta filosofar de "bucho" vazio.

    Luis Pereira.

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  2. Sei não, Luis. Não é pequena a lista de filósofos que eram uns baita mortos de fome rsrrrsr....
     
    Agora falando sério, seria muito prejudicial se adotássemos como axioma: "O que vende é material de concursos" e por isso nossa escrita deve seguir essa linha. Temos muito mais a ganhar fortalecendo a arquivística com textos interessantes e aderentes a nossa realidade. E pode ter certeza de que há público, veja por exemplo os recentes “Gestão em Arquivologia – abordagens múltiplas” e o “Arquivística temas contemporâneos” , você não os encontra mais nas livrarias, tem que fazer pedido; ao que tudo indica venderam bem. Faço a ressalva de que não são, no sentido original do post, publicações pop.

    Enfim, apostilas de concurso sucks! Também acho que não vale mais a pena nos chatearmos porque há poucas publicações na área. Temos é que escrever e, também, preconizar a escrita como algo a ser cultivado por todos os estudantes e profissionais da nossa área.

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  3. Prezado Leonardo,

    A proposta é ótima. Incentivar os arquivistas a “escrever de forma leve, criativa, falando da informação arquivística (e seu universo) como algo presente no cotidiano de todos” pode ser uma oportunidade para que a Arquivologia transcenda os limites da burocracia e exercite sua vocação interdisciplinar.

    No entanto, escrever não é fácil, requer dedicação. Os entendidos aconselham três etapas: a pesquisa, a escrita e a publicação. Alguns têm facilidade, outros nem tanto, mas o importante é iniciativa.

    Afinal transformar palavras em ideias e argumentos, cativar o leitor e conduzi-lo de forma suave por uma complexa rede de informações pode ser um grande desafio.

    Viva a filosofia!

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  4. Leonardo.

    Não discordo de suas palavras, pelo contrário. Difícil é convencer muitos arquivistas a seguir essa linha. Como bem colocado pela Tãnia Pereira, escrever não é fácil. Tenho os livros citados; comprei nos lançamentos. Outra publicação muito boa é "A Nova Arquivística na Modernização Adminisrativa (Luis Carlos Lopes), mas também não é encontrada nas livrarias.

    No entanto, não se iluda de que quem comprou estas publicações está preocupado em escrever artigos (alguns podem estar). Mas aposto o meu pescoço que a maioria comprou para estudar para concursos.

    Eu sou um dos defensores da área. Não penso que se deve pensar apenas em material de concurso. Quando for escrever, minha linha de raciocínio vai ser totalmente diversa. Eu gosto de filosofia, sociologia e política e digo que sua idéia é agradabilíssima.

    Minha dissertação versará sobre soluções de problemas práticos dos arquivos montados nos setores de trabalho. A única publicação nacional decente sobre os arquivos correntes é do professor Dr. Renato Tarciso. Sem esta raríssima exceção, a maioria dos artigos e livros da área tratam de restauração, preservação, arquivo permanente... Mesmo quando escrevem sobre documentos eletrônicos a preocupação é o tal "patrimônio arquivístico".

    Minha tese será voltada à parte teórica. Tentarei buscar uma corrente teórica nacional. Não tenho a menor idéia de como fazer ou se vou conseguir fazê-lo. Mas a idéia é esta.

    Só que depois. Coforme informado antes, tenho outras preocupações de cunho mais material.

    Luis Pereira.

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  5. pessoal, tentei vamos ver o resultado :-)

    http://www.contextoinformacional.com/2010/09/entrevistando-arquivistas-charlley-luz.html

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