14 junho 2011

Lattes e a Pesquisa Científica no Brasil

Fonte: www.ano40.unicamp.br

Há cerca de uma semana, por meio de um Decreto Federal, o acervo documental privado de César Lattes foi declarado de interesse público e social. Mas peraí! Se a única coisa que você sabe sobre Lattes é que ele serve de nome a uma plataforma curricular ou nem mesmo isso, você não pode deixar de ler esse post.

Cesare Mansueto Giulio Lattes revolucionou o estudo da física no país. O pesquisador, um dos maiores cientistas brasileiros, estudou na USP e seguiu para Londres onde aos 23 anos descobriu o que muitos pesquisadores da Europa e Estados Unidos tentavam há muito identificar: a partícula méson pi (ou píon).

Logo após, escreveu um artigo científico que relatava sua descoberta sobre a tal partícula responsável pelo comportamento das forças nucleares. A partir de então sua carreira deslanchou e lhe proporcionou diversos prêmios, dos quais podem-se destacar o Prêmio Einstein (1950), o Prêmio Fonseca Costa, do CNPq -Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1958), a Medalha Santos Dumont (1989), a Medalha comemorativa dos 25 anos da SBPC e placa comemorativa dos 40 anos dessa sociedade, o símbolo do Município de Campinas (1992), além de uma indicação ao Nobel de Física em 1950.


Um pequeno acervo informacional virtual sobre o pesquisador é disponibilizado pela Unicamp. Lattes acabou deixando suas marcas não apenas na área da Física, mas em diversos campos do saber. Sua contribuição pode ser sentida ainda hoje até mesmo nas agências nacionais de incentivo à pesquisa. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por exemplo; dentro de diversas ações relevantes, criou um banco de dados de pesquisadores baseada no uso de currículos, denominado de currículo lattes. Essa base de dados lançada em 1999 serve de modelo e também referência no que tange à pesquisa científica no país. Estima-se que hoje existam mais de 100 mil currículos cadastrados na plataforma Lattes.

Apesar de tudo, o que mais intriga é como o incentivo à pesquisa científica no Brasil ainda precisa ser melhorado. Pesquisadores que dedicam uma vida inteira aos estudos e ao desenvolvimento do país passam, na grande maioria das vezes, incógnitas até mesmo no meio científico. A que será que se deve isso? Falta de apoio governamental à pesquisa? Falta de reconhecimento por parte da população? Falta de interesse? Não se sabe...

E em relação aos aspectos arquivísticos, o que é necessário e o que significa dar a um acervo privado o status de acervo de "interesse público e social"? Quais implicações isso acarreta ao seu custodiador e ao próprio acervo em si? O que garante que ele seja organizado da maneira mais adequada?

Ainda sim parece haver uma razão incompreensível em se continuar desenvolvendo pesquisa no Brasil. É mais que merecido declarar de interesse público e social o acervo documental privado de César Lattes. No entanto, não é o suficiente para que ele e sua obra ganhem a repercussão e o "interesse" que de fato merecem.

Como pode se perceber, aquele que desenvolve uma pesquisa tem desafios que vão muito além do seu objeto de estudo. O pesquisador na verdade é um desafiador, desafia a si, o mundo e a cada um a buscar respostas ou ainda maiores indagações e pontos de vista sobre determinado assunto.


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Postado por: Fabrício Carpaneda

6 comentários:

  1. A falta de incentivo a pesquisa no Brasil pode ser resumida numa frase: tradição educacional.

    Pelo que se divulfa na mídia, os países na vanguarda em pesquisa investem pesado na bases educacionais. No Brasil, o foco é outro. Em geral, o investimento é maior no ensino de graduação, quando deveria ser o inverso.

    Dos alunos que iniciam o enssino fundamental, grande parcela não chega ao ensino médio; desses, outra grande parcela não chega à gradudação. Dos graduados, outra enorme parcela não segue a pós-graduação. Ao término do "filtro", restam poucos pesquisadores.

    Há não muito tempo, a Coréia do Sul importava tecnologia, hoje exporta. Tudo fruto de altos investimentos nas bases educacionais. Mas somente isto não basta, é preciso não esquecer as demais áreas.

    Contudo, deve-se destacar também o consicente coletivo. No Brasil, a "povão" sofre de inércia social - querem que aconteça, mas não se movem; esperam que outros façam aquilo que é dever deles. Por conseguinte, todos esperam, poucos fazem e quase nada acontece.

    Mas a falta de consciência não para. O mesmo cidadão que reclama das ruas cheias de lixo, é o mesmo que as suja; os mesmos alunos que reclamam da depreciação das escolas públicas, é o mesmo imbecil que depreda.

    O mesmo cretico que reclama dos hospitais superlotados, é o mesmo idiota que bebe demais, dirige embrigado, bate (seria melhor que morresse) e lota os leitos dos pronto-socorro causando prejuízo de bilhões (dinheiro que poderia ser usado para construir novos hospitais).

    A mesma anta que reclama de corrupção é o mesmo pilantra que tenta não pagar uma multa da qual sabe que ele é culpado, ou que tenta subornar um guarda, levar alto do supermercado sem pagar; não devolver o troco recebido a mais, fazer "gato" para não pagar conta de luz ou água...

    Os exemplos se multiplicam. A sociedade está podere e isto reflete - indireta ou diretamente - em tudo, inclusie no fatal de interesse em pesquisas.

    A solução não está apenas nos políticos. Quando (ou se) a população se conscintizar disto, as melhorias virão gradativamente.

    Luis Pereira.

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  2. Os pesquisadores da area da arquivologia não são valorizados pois a ciência da informação onde encontra-se inserido também não é. Segundo Jardim, o curso de arquivologia encontra-se na periferia dos campos de estudo que o CNPq financia.

    Apesar de parecer óbvio o motivo de no Brasil os professores, pesquisadores não serem valorizados precisamos, por mais irônico que seja, de pesquisa aprofundada a respeito.

    Sinto que os pensadores do Brasil estão precisando de apoio e não de que suposições preconceituosas.

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  3. Muitos cidadãos precisam de aulas introdução ao pensamento.

    Preceitos básicos.

    Luis Pereira.

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  4. Fabrício, gostei desse post! Sabe aqueles posts que a gente começa a ler e vai até o fim pq o assunto é interessante e foi muito bem feito?Pois então!

    Já sabia um pouco sobre César Lattes...mas esse post me fez pensar em um detalhe: que aprendi sobre ele por conta própria e não com um professor. Não seria essa uma das respostas para o fato levantado no post, da falta de incentivos à ciência no Brasil?

    Estou querendo dizer que no meu 2º grau inteiro aprendi sobre Newton, Einstein, Borh...e outros, mas nunca me falaram de César Lattes. Acredito que além da falta de apoio governamental à pesquisa falta também conhecermos os nossos cientistas. Conhecemos tão pouco ou quase nada do que é desenvolvido no Brasil. Particularmente, Lattes foi um bom exemplo de um cientista nacionalista, tanto que CNPq, ITA e tantos outros são frutos do seu trabalho no Brasil.

    Espero que esse acervo documental privado de Lattes esteja arquivado de forma segura e ideal, para que não haja riscos de acontecer algo semelhante ao alagamento do Espaço Milton Santos na UnB. Perdemos parte do acervo de um dos maiores geografos do Brasil.

    Té+

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  5. Interessante! Lendo o comentário de vocês me veio em mente a imagem dos Estados Unidos... Em um primeiro momento não entendi o motivo, mas, parando pra pensar, é um dos países que mais valoriza suas conquistas, muitas delas frutos de pesquisa e incentivos acadêmicos. Não defendo a bandeira desse país e sei que a realidade lá é beeem diferente, mas é inegável como há uma valorização e respeito com os profissionais que contribuem para o progresso da ciência.
    Pensar nunca é demais, aulas de introdução ao pensamento são importantes sim, mas enquanto elas não ocorrem para todos, trazer à tona a falta de investimentos nas bases educacionais, a situação periférica da arquivologia ou mesmo como deveria ter sido tratado o Espaço Milton Santos nos faz refletir em nosso posicionamento como arquivistas, pesquisadores e cidadãos, bem como a ciência é tratada em nosso país.

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  6. Nesta semana, soube de um imbecil (amigo de meu vizinho) que sofreu aquilo que citei logo acima. Foi dirigir embriagado, bateu e está em coma no hospital gastandoo dinheiro público.

    Se morresse, seria melhor. Era a punição justa por ser tão cretino. E ainda avisaram ao idiota: "não vá dirigir assim". Mas, como sempre, não dão ouvidos. Depois da desgraça, ficam todos "arrependidinhos". Mas antes...

    Luis Pereira.

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